Seleucia Fontes
Equipe da Adetuc realizou diagnóstico em aldeias
das etnias Javaé e Krahô-Kanela, na Região Turística da Ilha do Bananal.
Wagner Katamy mostra natureza intocada na Terra Krahô Kanela -
Seleucia Fontes - Governo do Tocantins
Festas
tradicionais e artesanato são importantes atrativos para o desenvolvimento do
turismo nas comunidades indígenas tocantinenses, sendo a pesca esportiva mais
um fator agregador e altamente rendável, principalmente na Ilha do Bananal.
O incentivo ao
Etnoturismo, que tem potencial reconhecido no Tocantins e é uma demanda de
várias comunidades, está na pauta de ações da Agência do Desenvolvimento do
Turismo, Cultura e Economia Criativa (Adetuc), que recentemente iniciou
diagnóstico nas aldeias Javaé e Krahô Kanela.
Durante o trabalho
de inventariação turística do município de Lagoa da Confusão, a equipe da
Superintendência de Turismo esteve em três aldeias e um acampamento de pesca,
para levantar as demandas das lideranças indígenas e conhecer as
potencialidades de cada agrupamento, tanto para o desenvolvimento da pesca
esportiva quanto para a atração de visitantes para atividades culturais.
“A vida dos povos
originários do Brasil é cercada de curiosidade e desconhecimento, há um grande
público interessado, inclusive internacional, o que pode resultar em geração de
renda e melhores condições de vida nas aldeias”, pontua Jairo Mariano, presidente
da Adetuc, ressaltando que o governador Mauro Carlesse está atento ao
fortalecimento do turismo como força econômica, inclusive nas comunidades
indígenas.
De acordo com as
gerentes de Produtos Turísticos, Kleiryanne Aguiar, e Projetos Estratégicos, Mayna
Bezerra, que também é responsável técnica pela Região Turística da Ilha do
Bananal, as aldeias visitadas possuem grande potencial a ser desenvolvido,
sendo necessária a elaboração de projetos e parceria de outras pastas do
Governo e entidades públicas e privadas.
Pesca esportiva
O povo Iny (pronuncia-se “Inã”) reúne a maior
população indígena do Tocantins, e inclui os Javaé e Karajá, que vivem em
grande parte na Ilha do Bananal, além dos Xambioá, sediados na região de Santa
Fé do Tocantins. O pescado faz parte de sua alimentação tradicional, sendo a
pesca profissional um meio de sobrevivência para várias comunidades. Mas o
avanço da pesca esportiva na região tem aberto novas perspectivas, não apenas
econômicas, como também ambientais, com a abundância de rios e lagos na região.
Walter Javaé: “Estamos aprendendo a entender o pesca e solta para
trabalhar com turismo” - Seleucia Fontes - Governo do Tocantins
Uma das lideranças
locais, o ex-cacique Walter Javaé, 56, conta que seu pai foi fundador da Boto
Velho, maior aldeia da etnia, e seu filho é o atual cacique da aldeia Tixodè.
Seu acampamento encontra-se em uma área privilegiada, onde o rio Verdinho, que
tem uma extensão de 37 km, encontra-se com o Javaé. Ele, que já atuou na
Fundação Nacional do Índio (Funai), explica que ainda é preciso identificar
todos os lagos, visando a alternância dos pontos de pesca, para garantir a
reprodução das espécies locais.
“Estamos
aprendendo a entender o pesca e solta para trabalhar com turismo”, conta
Walter, relevando que dentro da Ilha do Bananal, na chamada Mata do Mamão –
fechada para qualquer forma de exploração, devido à possível presença de
indígenas não contatados – há “piroscas com mais de 200 kg e enormes Anacondas”
(sucuris gigantes).
Miguel Waotia apresenta o rio Barreiro, um dos pontos de
pesca da Terra Javaé - Seleucia Fontes - Governo do Tocantins
Casado com uma
Javaé, Miguel Waotia Karajá, 64, é cacique da aldeia Watnã, e mostrou com
orgulho, à equipe da Adetuc, o rio Barreiro, que possui 1500 metros, sendo que
a área de sua aldeia possui mais oito lagos, três já mapeados e cadastrados no
Ministério da Pesca. “Tem lago sem pesca há 2 anos que está com muito
pirarucu”, conta ele, que em setembro passará o comando da aldeia, formada por
nove famílias, para dois de seus filhos. “Sempre procurei desenvolvimento para
o meu povo”, diz.
“Antes da criação
do parque indígena, essa terra já era nossa, hoje precisamos de
desenvolvimento, geração de emprego e renda, por isso estamos buscando essa
parceria com município e Estado”, revelou, ao defender a proteção da cultura
Iny, com a construção de um centro de visitas e museu, no formato de uma casa
tradicional, para receber os visitantes.
Miguel, que
defende a prática da pesca esportiva com fiscalização indígena, também mostrou
outras riquezas de suas terras: um grande pé de jatobá e uma pedra negra que,
segundo estudos de duas mineradoras, é manganês e possui cerca de 5 mil metros
cúbicos, estando sua totalidade abaixo da terra.
Apesar do pai
indígena, Paulo César Javaé, 48, nunca negou suas raízes, aprendendo com a mãe
as tradições do povo Iny. “Falo minha língua muito bem, minhas raízes estão
aqui”, conta ele que é cacique da aldeia Horotory Awá, com 15 famílias, formada
há apenas 3 anos. Ele revela que a pesca profissional já foi a principal fonte
de renda de seu povo, que depois passou a ser a criação de gado.
“Antigamente, a
gente não precisava de vaca ou cesta básica para fazer a festa do Hetoroky; o
pai plantava mandioca pra comer com peixe, batata doce, banana, colhia mel
silvestre. Tendo alimento suficiente chamava para a festa dos diré”, conta,
sobre a festa tradicional que marca a passagem dos meninos para a vida adulta.
Paulo César: “Ninguém vai entrar sem autorização, e ninguém vai sair com
peixe” - Seleucia Fontes - Governo do Tocantins
Segundo Paulo
César, a área Javaé possui mais de 30 lagos, mas alguns secam no período sem
chuvas e outros são verdadeiros pântanos no período chuvoso. Para ele, é
fundamental revezar a exploração dos lagos para pesca esportiva, e controlar a
entrada desordenada de não indígenas pela principal balsa que dá acesso à Ilha.
“Ninguém vai
entrar sem autorização, e ninguém vai sair com peixe”, defende, sempre com a
preocupação de gerar estabilidade econômica para seu povo. “A questão da pesca
depende de controle, fiscalização”, completa.
Oportunidade para
o povo Krahô Kanela
Com uma trajetória
de grandes perdas e quase dizimação, o povo Krahô Kanela conquistou a
regularização das suas terras e o reconhecimento como etnia há menos de duas
décadas e vem, aos poucos, retomando suas tradições e língua, a partir de
projeto de revitalização que conta com apoio de instituições de ensino
superior e do povo Krahô.
Para eles,
Etnoturismo não é visto apenas como uma possibilidade de geração de renda, mas
também um estímulo à retomada das festas tradicionais, danças e cantos, ao uso
de pinturas e produção do artesanato.
A Terra Indígena
conta com 130 moradores, está localizada a 57 km de Lagoa da Confusão e possui
12 lagos entre os dois mais importantes rios da região, o Formoso e o Javaé.
Para Wagner Katamy Ribeiro da Silva Krahô Kanela, presidente da Associação do
Povo Indígena Krahô Kanela (Apoinkk), é viável trabalhar o turismo associado a
preservação ambiental.
Sua proposta, que
conta com apoio de lideranças da aldeia, é trabalhar com pesca esportiva no
Lago do Cacoal, a cerca de 2 km do rio Javaé, aliando outras atividades, como a
observação de animais silvestres e apresentações culturais.
“É comum na região
o aluguel de pastagens, a criação de gado e a pesca profissional, o turismo é
uma nova oportunidade”, aponta Wagner, ressaltando que a ideia é preparar uma estrutura
para a pesca esportiva e treinar os jovens da aldeia para atuarem como
vigilantes e condutores.