Foto: Fábio Rodrigues Pozzebom / Agência Brasil
Faltando um ano para o Brasil sediar 30ª Conferência das
Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP30) em Belém (PA), em novembro
de 2025, surgem preocupações sobre a capacidade do país em realizar o evento
seguindo todos os padrões internacionais. Servidores do Itamaraty temem a
sobrecarga do trabalho devido a deficiências estruturais e orçamentárias no
Ministério das Relações Exteriores (MRE).
De acordo com o Portal da Transparência, o
MRE conta com um dos menores orçamentos entre os ministérios brasileiros. Foram
R$ 4,5 bilhões destinados em 2024, representando cerca de 0,09% dos gastos
públicos totais no ano. Coincidentemente, o Ministério do Meio Ambiente e
Mudança do Clima é uma das poucas pastas com orçamento inferior, recebendo R$
3,6 bilhões. A restrição orçamentária afeta diretamente a capacidade de
trabalho, alertam representantes do Sindicato Nacional dos Servidores do
Ministério das Relações Exteriores (Sinditamaraty).
Segundo o Sinditamaraty, o MRE enfrenta uma
escassez crítica de recursos humanos e materiais, o que limita o suporte
necessário para eventos internacionais de grande porte. Ivana Vilela,
presidente do sindicato e Oficial de Chancelaria do Itamaraty, afirma que os
servidores frequentemente utilizam seus próprios equipamentos em missões
internacionais, uma “realidade inaceitável”. “Estamos lidando com um orçamento
que mal sustenta o dia a dia, quanto mais um evento global desse porte.
Computadores defasados e sistemas antigos. Os servidores precisam investir do
próprio bolso para garantir que possam realizar suas atividades”, lamenta.
Ivana também expressa preocupação com o
contingente de pessoal necessário para a COP30. Dados do próprio Itamaraty
revelam que o ministério dispõe de 3.093 servidores (1.552 diplomatas, 812
oficiais de chancelaria, 439 assistentes de chancelaria e 290 concursados de
outras carreiras), um número que, segundo Ivana, corresponde a um terço do
ideal. “Esse é um trabalho extraordinário realizado por um quadro muito abaixo
do necessário, com servidores executando a função de três pessoas. Estamos
sobrecarregados e fazendo hora extras sem remuneração, o que tem levado muitos
servidores à estafa total”, afirma. Entre os países referência em diplomacia, a
França tem 17 mil funcionários nas Relações Exteriores, número cinco vezes
maior que o do Brasil.
As condições atuais indicam que o Itamaraty
pode ter dificuldades para coordenar um evento desse porte com os padrões
exigidos. “Todos os eventos internacionais que acontecem no Brasil, que incluem
a presença de chefes de Estado, ficam a cargo do Itamaraty. Isso exige uma
infraestrutura robusta e recursos humanos adequados”, alerta Ivana.
Para que a COP30 seja um marco de liderança
climática e um sucesso internacional, especialistas destacam que é essencial
que o governo federal atenda às demandas dos servidores do Itamaraty,
promovendo investimentos estruturais e assegurando condições de trabalho
sustentáveis para 2025. “Existem muitos pontos relevantes para discutirmos em
meio à COP, onde todos falam sobre sustentabilidade. No entanto, a
sustentabilidade da força de trabalho no Itamaraty parece estar longe do
ideal”, completou a sindicalista.
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