Pousada
Uacari, em Tefé, na Amazônia. Divulgação
Com os
efeitos das crises globais cada vez mais acelerados, estamos nos dando conta de
que a sustentabilidade não é mais solução para salvarmos o planeta. Precisamos
agir com urgência para restaurar o que já destruímos, e isso vale também para
os impactos causados pelo turismo.
A proposta
do Turismo Regenerativo nasceu exatamente com este olhar, a partir do
entendimento de que precisamos mudar completamente o modo que viajamos e
fazemos as coisas hoje, já que o sistema atual não está funcionando.
Mas será
que o Brasil está preparado para promover e abraçar o Turismo Regenerativo? De
acordo com os membros do MUDA! Coletivo Brasileiro pelo
Turismo Responsável, o Brasil tem todo potencial e inclusive já
desenvolve muitas iniciativas de Turismo Regenerativo, mas ainda precisamos
falar mais no assunto, desfazer alguns mitos e estereótipos criados sobre ele
e, principalmente, entendermos que, para agirmos de forma regenerativa,
precisamos transformar nossa visão de mundo.
Para a
comunicadora e fundadora do Por Um Recomeço,
Renata Ferreira, que viaja em busca de projetos regenerativos, “para o Brasil
abraçar o turismo regenerativo, precisamos de uma reaproximação com a ideia de
que nós somos natureza.
Renata Ferreira. Foto: Ana Duek
Hoje o
turismo, infelizmente, tem a visão predominante de que a natureza está ali para
ser explorada. Assim, os ambientes naturais precisam se adaptar aos exageros
humanos e sofrem grandes transformações”.
Entre os
princípios do Turismo Regenerativo está a ideia de colocar a natureza no centro
e o homem se entender como parte da natureza, assim como fazem a maioria dos
povos originários.
Além disso,
o Turismo Regenerativo é baseado no pensamento sistêmico, que entende o mundo
como uma rede de sistemas vivos que interagem e coevoluem. Ele também está
muito mais focado no cuidado com o destino, buscando a valorização do senso de
lugar, da cultura local e de respostas específicas para questões locais.
De acordo
com Mariana Madureira, sócia da Raízes Desenvolvimento
Sustentável, o cenário de poli crises que criamos com um
desenvolvimento insustentável pede que o turismo também se adeque não só para
impactar menos, mas para apoiar a restauração do que foi perdido.
“Para além
da restauração ambiental, que é urgente e fundamental, gosto de pensar sobre o
resgate da nossa relação de sacralidade com a natureza. A dissociação nos levou
a destrui-la e a conexão com modos de vida tradicionais podem nos ajudar a
reaprender esse vínculo. Por isso, o Turismo de Base Comunitária é tão
importante nesse contexto”, pondera Mariana.
A
turismóloga integrativa, especialista em educação ambiental e conservação da
natureza e fundadora da EkoWays Caminhos Regenerativos,
Amanda Selivon, é colaboradora local da Iniciativa Global de Turismo
Regenerativo (IGTR) e oferece workshops de formação e consultoria sobre o tema.
Amanda Selivon. Foto: Ana Duek
De acordo com Amanda, “o Turismo Regenerativo tem potencial para o fortalecimento de comunidades e suas cadeias produtivas com foco na conservação da biodiversidade e na regeneração da paisagem, facilitando o engajamento e a ecologia social, com metodologias como o planejamento e design participativo e a gestão adaptativa, desenvolvendo suas capacidades baseadas na visão bioantropocêntrica e nos saberes da geometria sistêmica apresentados pela IGTR”.
“Para
alcançarmos a regeneração nos ambientes social, político, econômico, cultural e
espiritual os pilares e princípios do Turismo Regenerativo devem ser
trabalhados de forma transversal, olhando para os destinos com a proposta de
criar valor de saúde e bem-estar natural e humano”, complementa.
Conheça 6
pilares do Turismo Regenerativo:
- Pensamento
sistêmico: um pensamento holístico e abordagem abrangente que vê os
sistemas vivos como integrados e dependentes uns dos outros. Olhar para o todo.
- Honrar
o senso de lugar: valorizar a cultura, identidade, individualidades do
local sem tentar transformá-lo e encontrando soluções locais para suas
necessidades.
- Comunidade
local como protagonista: apesar de considerar todos os stakeholders,
as comunidades locais precisam ser os principais decisores sobre as escolhas
para o turismo que será desenvolvido no lugar.
- Natureza
como pilar central: o homem volta a se entender como parte da natureza
e coevolui com ela. A natureza é o pilar principal, mas a regeneração também
considera os pilares social, cultural, político, econômico e espiritual.
-
Cocriação: trabalho em colaboração com todos os atores
envolvidos, buscando sempre benefícios mútuos.
-
Coevolução contínua: a regeneração não é temporal. Ela evolui
continuamente e é preciso estar consciente de sua evolução. A adaptação
contínua é a essência da regeneração.
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