Na Ilha do Bananal, mais de
quatro mil pessoas acompanharam o ritual de iniciação da vida adulta da etnia
Fotos: Manoel Júnior/Governo do
Tocantins
Adolescentes passam por diversas fases no ritual em preparação para a vida adulta
Aldeia Fontoura chega para competir com a aldeia Santa Isabel do Morro
Os aruanãs são os guias dos adolescentes e os orientam sobre as atividades do Hetohoky
Assim como as tradicionais
festas de debutantes, é de encher os olhos a cerimônia de passagem para a vida
adulta dos adolescentes Karajá, chamada de Hetohoky.
Ao longo de todo este mês, os
rituais ocorrem em diversas aldeias da região da Ilha do Bananal. A primeira a
iniciar a solenidade foi a aldeia de Santa Isabel do Morro, que contou com a
presença de mais de quatro mil pessoas, entre indígenas e não indígenas, nos
dias 8 a 10 de março.
Com o objetivo de valorizar o
rito de passagem que representa um marco ao respeito à cultura ancestral Iny, o
Governo do Tocantins, por meio da Secretaria de Estado de Povos Originários e
Tradicionais (Sepot), é parceiro do evento com apoio logístico e da cobertura
jornalística à manifestação cultural.
A cerimônia continua nos dias 14
e 15 na aldeia Macaúba; e no dia 23 na aldeia Fontoura. A Secretaria de Estado
de Turismo (Sectur), a prefeitura de Lagoa da Confusão, a prefeitura de Pium e
a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) também são apoiadores do rito
de passagem.
Para a secretária da Sepot,
Narubia Werreria, o Hetohoky é o maior se não um dos maiores rituais dos povos
originários do Tocantins. “Temos muito orgulho de apoiar. É uma determinação do
nosso governador Wanderlei Barbosa. Essa manifestação cultural é grandiosa e
estrutura culturalmente e socialmente o povo Iny. E ela é importante tanto para
nós Iny quanto para os demais povos indígenas do Tocantins. E também para toda
a população, pois reafirma a nossa identidade indígena, valorizando as nossas
riquezas culturais que é o que a gente tem de mais precioso”, destacou a
gestora.
O Hetohoky significa "casa
grande" e leva esse nome pois os adolescentes ficam em uma casa de palha
grande durante o ritual, onde aprendem mais da cultura dos povos Iny (Karajá,
Karajá-Xambioá e Javaé). Na casa, os adolescentes passam por uma cerimônia de
transição para a vida adulta, como uma espécie de “batismo”.
Na cerimônia, os espíritos da
mata, conhecidos como "aruanãs", cercam a casa, construída um dia
antes, entoando cânticos. Representando animais, eles se vestem com
indumentárias feitas de palha de palmeira, adereços coloridos e penas.
Os aruanãs são os guias dos
adolescentes e os orientam sobre as atividades do Hetohoky, onde aprendem sobre
a cultura, tradições e valores da cultura Iny. Ao longo da cerimônia, recebem
lições de disciplina e respeito.
No encerramento, participam de
rituais simbólicos, como banho no rio, remoção de penas, cuidado com os cabelos
e pintura corporal, simbolizando a transformação em adultos guerreiros. O ponto
mais forte do ritual indígena é quando os adolescentes são entregues para as
mães.
O cacique da aldeia Santa Isabel
do Morro, Tuila Silva Karajá, explicou que o Hetohoky é uma forma de
fortalecimento da cultura e de incentivo aos jovens. “É uma forma de não
deixar a nossa cultura acabar e nós somos conhecidos por essa valorização. Como
a cultura não indígena está entrando muito forte nas nossas aldeias, estamos
tentando resistir e manter nossa tradição firme e forte”, disse.
No primeiro dia, os aruanãs
fizeram um cumprimento aos adolescentes participantes do Hetohoky. No segundo,
os guerreiros performaram força e vigor para receber a aldeia Fontoura e seus
convidados, que chegaram em um grande barco para participar de competições com
a Santa Isabel.
No mesmo dia, indígenas das duas
aldeias participaram de lutas corporais e à noite, todos tentaram derrubar a
tora da aldeia Santa Isabel do Morro, mas não tiveram sucesso. Já no terceiro
dia, os meninos partiram rumo à casa dos aruanãs, onde ficarão por sete dias,
seguindo o processo de se tornarem adultos.
Sobre o momento da tora, o
cacique comenta que ela representa a criança da comunidade da aldeia Santa
Isabel. “A tora é a dona da festa do Hetohoky. Então eles vêm com a intenção de
derrubar esse mastro, e temos que defender nossa criança e a honra de nossa
comunidade. É uma cultura maravilhosa, linda e sadia que ainda está presente em
nosso estado do Tocantins”, explicou.
A argentina Silvia Bia percorre
o mundo na sua bicicleta e tinha o sonho de visitar a Ilha do Bananal e
conhecer a cultura Karajá. “Adorei a experiência aqui, foi tudo muito. Amo
conhecer diferentes culturas e a do povo Karajá me chamou a atenção. Fiquei
muito grata por presenciar toda a celebração”, completou.
Elâine Jardim/Governo do
Tocantins
Nenhum comentário:
Postar um comentário