Por Daniel França
Um
espaço de convergência e diálogo entre as mais variadas crenças, religiões e
expressões daquilo que é considerado sagrado, em um ambiente ao ar livre,
aberto a todos os públicos. Esta é a proposta do Parque das Religiões, um
centro cultural que vai fazer parte das opções de turismo e lazer da Cidade
Alta de Olinda.
Convento de São Francisco. Foto: Alex Costa
A
iniciativa é fruto de parceria entre os Franciscanos, Universidade Católica de
Pernambuco e Parque das Religiões, entidade da sociedade civil que reúne
cientistas, intelectuais, professores, pesquisadores e pessoas de diferentes
credos e profissões dedicadas à extensão e a atividades práticas dos estudos da
religião.
Representantes
das instituições parceiras do projeto estiveram entre os participantes da 66ª
Reunião Ordinária do Conselho Estadual de Turismo de Pernambuco (Contur – PE).
Na ocasião, a Unicap foi eleita pelos conselheiros, por unanimidade, como
membro fixo da recém-criada câmara técnica do Turismo Religioso do Contur-PE.
Com
apoio do poder público e investimento de empresas privadas, o novo equipamento
visa requalificar o Convento de São Francisco, o mais antigo do Brasil e que abriga
a primeira biblioteca pública do Estado, integrando as edificações do século
XVI à área verde que faz parte do terreno de quase três hectares.
O
projeto urbanístico, arquitetônico e paisagístico vai preservar aspectos
naturais, inclusive com recuperação de passivos ambientais. O estudo de
viabilidade econômica deve ficar pronto em até dois anos.
O
Parque das Religiões nasce em sintonia com o conceito de justiça
socioambiental, que abrange questões sociais, ambientais e espirituais. “A
missão do Parque das Religiões é desenvolver reflexões sobre as experiências
espirituais, estimulando a busca de significados mais profundos para esse
patrimônio cultural da humanidade que são as espiritualidades, tanto religiosas
como também não, ou pós-religiosas. O Parque vai ser um farol diferente em
Olinda”, argumenta Sergio Ferreira, em nome do Conselho Gestor da entidade.
O
Reitor da Unicap, Padre Pedro Rubens, destaca que a parceria inédita representa
um momento histórico. “Esse convênio acontece em pleno Pontificado do primeiro
jesuíta eleito papa, primeiro latino-americano e primeiro a escolher o nome de
Francisco. Em 2022, os jesuítas comemoraram os 500 anos da conversão de Santo
Inácio de Loyola e os franciscanos iniciam a celebração dos 800 anos da regra
de São Francisco”.
Espaço
pedagógico - Outro ponto que vale salientar é a busca da tolerância
religiosa por meio do diálogo e convivência harmoniosa entre aqueles que
expressam de maneiras e costumes diferentes a sua crença no sagrado. “Há 800
anos, São Francisco questionou a estratégia das Cruzadas católicas e buscou
dialogar com o Sultão muçulmano Al-Malik. Há 400 anos, na China, os Jesuítas
começaram um diálogo intercultural e inter-religioso visando colaborar com tudo
o que leva a humanidade “para frente e para cima”.
Tais
experiências motivaram a abertura desses religiosos para o estudo científico
das tradições de fé e para a meditação mística sobre os dados das ciências,
levando-os a acolherem e promoverem o mais amplo ecumenismo entre os grupos
espirituais e filosóficos que defendem a justiça e a compaixão, o mais sincero
diálogo com as pessoas que amam a vida e a liberdade”, explica o pesquisador
Gilbraz Aragão, salientando a importância da educação científica sobre a
religiosidade.
Esta
ação é uma forma de concretizar as orientações da Encíclica Laudato Si’, do
Papa Francisco, que tem unido Jesuítas e Franciscanos a educadores. O Guardião
do Convento de São Francisco, Frei César, explica o que levou os Franciscanos
acolherem a iniciativa do Parque. “Nada mais oportuno, nesse momento, para o
Convento de São Francisco, como parte de um conjunto arquitetônico católico e
na qualidade de Convento Franciscano mais antigo do Brasil, estar junto dessa
iniciativa, cujo mérito transcende o físico e se conecta com o diálogo da preservação
ambiental. Como parte de nossa história, abrir mais ainda o espaço para um
diálogo interreligioso traduz a nossa missão religiosa de conexão com o
divino.”
A
proposta prevê a construção de tendas temáticas, além de espaços destinados a
estudos, lojas, alimentação, auditórios, anfiteatro e biblioteca especializada
com apoio de tecnologias digitais. Os ambientes serão montados de maneira a
conduzir os visitantes por uma rede de trilhas que irá compor a experiência
única de quem for ao local. O conjunto de tendas será planejado em harmonia com
o ambiente natural e histórico com a seguinte organização:
• Introdução: linha do tempo do
desenvolvimento das religiões e distribuição geográfica dos fiéis.
• Tempos e Lugares: as grandes figuras das
religiões e as palavras inspiradas (tradições orais, textos sagrados,
revelações e interpretações).
• Personagens Divinos e as Palavras
Inspiradas: imagens, objetos, lugares sagrados, templos, rituais, orações,
canções, danças e meditações.
• O que as religiões dizem sobre o mistério
e a mística da vida agora, antes e depois.
• Vida Antes e Depois: mediunidade,
proibições religiosas (comida, sexo, ética e política).
• A relação entre dinheiro e poder nas
instituições religiosas.
• Política, Sociedade, Vida Comunitária,
Organização e Ética: abordagem de conflitos, diálogos e sincretismos entre
religiões.
• Conflitos, Diálogos e Sincretismos entre
Religiões.
• Povos e Religiões: níveis de participação
religiosa (magia popular e mística dos santos, saúde e salvação).
Para
a assessora executiva do Parque, Verônica Lima, as tendas que irão compor o
projeto museológico, em consonância com o Instituto Brasileiro de Museus
(Ibram), vão unir criatividade e arte, tecnologia e natureza. “E o inusitado do
conteúdo é a sua abordagem temática, preferencialmente transversal, visando
valorizar uma sociedade pluralista, multicultural, miscigenada e democrática”,
ressaltou.
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