sexta-feira, 24 de setembro de 2021

Turismo na Amazônia: O novo normal

 Moisés Gomes – Superintendente do Sebrae Tocantins

 


Moisés Pinto Gomes é Mestre em Engenharia Agrícola, especialista em Recursos Hídricos, funcionário de carreira da Agência Nacional das Águas e empresário


O turismo é uma das atividades de maior crescimento no mundo e tem uma enorme capacidade de geração e distribuição de renda. Exatamente por isso, deveria ser considerado ferramenta de desenvolvimento num país com tantos atrativos como o Brasil. Deveria ter prioridade nos investimentos de União, estados e municípios, mas, infelizmente, não é o que acontece. Há, contudo, uma janela de oportunidade trazida pela mudança do padrão de consumo no mundo que está emergindo após a pandemia: o turismo de aventura (que envolve pesca esportiva, espeleologia, escalada, ciclismo, caminhadas, surfe, mergulho, rafting, entre outros) vem ganhando espaço nos planos de viagem dos turistas.

Segundo estudos da consultoria norte-americana Allied Market Research (AMR), o mercado global do turismo de aventura deve dobrar nos próximos 5 anos. Um mercado que foi avaliado em US$ 112.2 bilhões (R$ 580,2 bilhões) em 2020 deverá atingir impressionantes US$ 1.2 trilhão (R$ 6,2 trilhões) em 2028.

Por tipo, segundo a AMR, o segmento “soft” (que engloba esportes de baixo risco) foi o que mais se destacou, respondendo por US$ 37.6 bilhões (R$ 194,4 bilhões) em 2020. Espera-se que atinja uma movimentação de US$ 380.7 bilhões (R$ 2,0 trilhões) em 2028. Por atividade, o segmento “land based” (atividades terrestres) foi a categoria mais proeminente em 2020 e assim seguirá até 2028.

Isso é uma excelente notícia para o setor que mais sofreu durante a pandemia. Para a Região Norte do país – e para o Tocantins em particular – pela natureza dos seus atrativos, não poderia haver oportunidade melhor. Mas, para que se possa aproveitar essa oportunidade, há um dever de casa complexo, caro e que exigirá de governos e instituições ligadas ao tema, capacidade de articulação rara no Brasil.

O Anuário Estatístico do Turismo 2021, do Ministério do Turismo, mostra que o Brasil recebeu em 2019 pouco mais de 6,4 milhões de visitantes. Em 2018, haviam sido 6,6 milhões, o que coloca o país em 49o lugar do ranking mundial. Para se ter uma ideia do que significa essa posição, o ranking é liderado por França, Espanha e Estados Unidos, que receberam, respectivamente, 89,4, 82,8, 79,7 milhões de visitantes em 2018. No líder França, apenas o Museu do Louvre recebeu 8,1 milhões de visitantes, ou seja, 27% mais turistas que todo o Brasil.


Cabe então perguntar: o que leva os turistas a visitar os 48 países que estão à frente do Brasil no ranking, em detrimento do Cristo Redentor, das praias do Nordeste e dos fervedouros e cachoeiras do Jalapão?

Para responder a essa e outras perguntas, os Sebrae dos 7 estados da Região Norte e o Sebrae Nacional estão coordenando a elaboração de um estudo abrangente sobre o tema e um planejamento detalhado das ações necessárias para, aproveitando o maior interesse dos viajantes pelo turismo de aventura e a retomada em ritmo acelerado das viagens a lazer, incluir a região entre os destinos mais buscados.

A ideia é consolidar uma “Rota Amazônica” entre os maiores operadores de turismo do mundo, detalhando as ações necessárias e propondo soluções para os gargalos que o setor enfrenta hoje. Com uma pesquisa de opinião internacional aprofundada, espera-se conhecer “a vontade do cliente”, o que eles levam em consideração na hora de escolher, por exemplo, para onde vão nas férias ou quanto estão dispostos a gastar.

A Região Amazônica é sempre destacada por sua riqueza e diversidade natural. Um ambiente único e de grande interesse para visitação, com um enorme potencial para o ecoturismo, turismo de aventura e esportivo, turismo de negócios, turismo de base comunitária, turismo cultural (étnico, religioso e místico), etc.

Mas o fato é que essa percepção, apesar de glamorosa, não é referendada pelos números. O Anuário Estatístico de Turismo 2020 mostra que do total de visitantes que o país recebeu em 2019 uma parcela insignificante veio à Região Norte. Nenhuma cidade da região figura entre os 10 destinos mais visitados do país, quer seja no turismo de lazer, que respondeu por 54,3% dos desembarques, ou no de eventos e negócios.

Chegou a hora de mudar essa realidade. Hora de somar todos os esforços possíveis e tratar o turismo com pragmatismo, como a atividade econômica poderosa que é. Os destinos de aventura da Amazônia, a céu aberto, uma pescaria no Rio Tapajós ou uma praia do Rio Araguaia, têm que fazer parte do roteiro de americanos, europeus e asiáticos. Devem ser o “novo normal” daqueles que vão arrumar as malas no mundo pós-pandemia.

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