Moisés Gomes – Superintendente do Sebrae Tocantins
Moisés Pinto Gomes
é Mestre em Engenharia Agrícola, especialista em Recursos Hídricos, funcionário
de carreira da Agência Nacional das Águas e empresário
O turismo é
uma das atividades de maior crescimento no mundo e tem uma enorme capacidade de
geração e distribuição de renda. Exatamente por isso, deveria ser considerado
ferramenta de desenvolvimento num país com tantos atrativos como o Brasil.
Deveria ter prioridade nos investimentos de União, estados e municípios, mas,
infelizmente, não é o que acontece. Há, contudo, uma janela de oportunidade
trazida pela mudança do padrão de consumo no mundo que está emergindo após a
pandemia: o turismo de aventura (que envolve pesca esportiva, espeleologia,
escalada, ciclismo, caminhadas, surfe, mergulho, rafting, entre outros) vem
ganhando espaço nos planos de viagem dos turistas.
Segundo
estudos da consultoria norte-americana Allied Market Research (AMR), o mercado
global do turismo de aventura deve dobrar nos próximos 5 anos. Um mercado que
foi avaliado em US$ 112.2 bilhões (R$ 580,2 bilhões) em 2020 deverá atingir
impressionantes US$ 1.2 trilhão (R$ 6,2 trilhões) em 2028.
Por tipo,
segundo a AMR, o segmento “soft” (que engloba esportes de baixo risco) foi o
que mais se destacou, respondendo por US$ 37.6 bilhões (R$ 194,4 bilhões) em
2020. Espera-se que atinja uma movimentação de US$ 380.7 bilhões (R$ 2,0
trilhões) em 2028. Por atividade, o segmento “land based” (atividades
terrestres) foi a categoria mais proeminente em 2020 e assim seguirá até 2028.
Isso é uma
excelente notícia para o setor que mais sofreu durante a pandemia. Para a
Região Norte do país – e para o Tocantins em particular – pela natureza dos
seus atrativos, não poderia haver oportunidade melhor. Mas, para que se possa
aproveitar essa oportunidade, há um dever de casa complexo, caro e que exigirá
de governos e instituições ligadas ao tema, capacidade de articulação rara no
Brasil.
O Anuário Estatístico do Turismo 2021, do
Ministério do Turismo, mostra que o Brasil recebeu em 2019 pouco mais de 6,4
milhões de visitantes. Em 2018, haviam sido 6,6 milhões, o que coloca o país em
49o lugar do ranking mundial. Para se ter uma
ideia do que significa essa posição, o ranking é liderado por França, Espanha e
Estados Unidos, que receberam, respectivamente, 89,4, 82,8, 79,7 milhões de
visitantes em 2018. No líder França, apenas o Museu do Louvre recebeu 8,1
milhões de visitantes, ou seja, 27% mais turistas que todo o Brasil.
Cabe então
perguntar: o que leva os turistas a visitar os 48 países que estão à frente do
Brasil no ranking, em detrimento do Cristo Redentor, das praias do Nordeste e
dos fervedouros e cachoeiras do Jalapão?
Para responder a essa e outras perguntas, os Sebrae dos 7 estados da Região Norte e o Sebrae Nacional estão coordenando a elaboração de um estudo abrangente sobre o tema e um planejamento detalhado das ações necessárias para, aproveitando o maior interesse dos viajantes pelo turismo de aventura e a retomada em ritmo acelerado das viagens a lazer, incluir a região entre os destinos mais buscados.
A ideia é consolidar uma “Rota Amazônica” entre os
maiores operadores de turismo do mundo, detalhando as ações necessárias e
propondo soluções para os gargalos que o setor enfrenta hoje. Com uma pesquisa
de opinião internacional aprofundada, espera-se conhecer “a vontade do
cliente”, o que eles levam em consideração na hora de escolher, por exemplo,
para onde vão nas férias ou quanto estão dispostos a gastar.
A Região
Amazônica é sempre destacada por sua riqueza e diversidade natural. Um ambiente
único e de grande interesse para visitação, com um enorme potencial para o
ecoturismo, turismo de aventura e esportivo, turismo de negócios, turismo de
base comunitária, turismo cultural (étnico, religioso e místico), etc.
Mas o fato
é que essa percepção, apesar de glamorosa, não é referendada pelos números. O
Anuário Estatístico de Turismo 2020 mostra que do total de visitantes que o
país recebeu em 2019 uma parcela insignificante veio à Região Norte. Nenhuma
cidade da região figura entre os 10 destinos mais visitados do país, quer seja
no turismo de lazer, que respondeu por 54,3% dos desembarques, ou no de eventos
e negócios.
Chegou a
hora de mudar essa realidade. Hora de somar todos os esforços possíveis e
tratar o turismo com pragmatismo, como a atividade econômica poderosa que é. Os
destinos de aventura da Amazônia, a céu aberto, uma pescaria no Rio Tapajós ou
uma praia do Rio Araguaia, têm que fazer parte do roteiro de americanos,
europeus e asiáticos. Devem ser o “novo normal” daqueles que vão arrumar as
malas no mundo pós-pandemia.
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