A coleta do capim-dourado é feita pelas comunidades tradicionais do Jalapão, organizadas em associações e autorizadas pelo Naturatins, as quais tiram do artesanato produzido a partir das hastes o sustento de suas famílias
Somente extrativista e coletores autorizados podem participar da colheita do capim-dourado. Fotos: Naturatins/Divulgação
Cerca de 1,5 mil artesões e extrativistas autorizados
pelo Instituto Natureza do Tocantins (Naturatins) estão participando da
colheita das hastes de capim-dourado (Syngonanthus nitens), na região do
Jalapão. A colheita teve início no dia 20 deste mês e segue até novembro.
A supervisora da Área de Proteção Ambiental (APA) do Jalapão,
Rejane Nunes, explica que os campos de capim-dourado são extensos e longe, por
isso muitos coletores acampam no local durante o período de coleta e só
retornam quando estão com a quantidade de hastes suficientes para trabalhar
durante o ano.
“Apesar do tamanho e da distância, nós percorremos essas áreas todos os
anos, com apoio da equipe de fiscalização do Naturatins e dos comunitários do
povoado Mumbuca”, diz Rejane, informando que esse monitoramento é importante
para garantir que não haja invasores (pessoas não autorizadas) colhendo as
hastes, especialmente quando ainda não estão completamente maduras, antes da
abertura da colheita oficial.
A supervisora esclarece que esse trabalho é necessário para garantir que
a coleta do capim-dourado seja feita pelas comunidades tradicionais,
organizadas em associações e autorizadas pelo órgão ambiental, e que tiram do
artesanato produzido a partir das hastes o sustento de suas famílias.
São 15 dias de fiscalização intensa nos campos de capim-dourado,
inclusive com remanejamento de agentes de fiscalização de Palmas.
“Essa operação começa com o monitoramento dos campos no final de agosto
ou início de setembro, quando algumas hastes já começam a ficar maduras e exibir
seu brilho dourado, e vai até o início da coleta, quando os próprios
extrativistas autorizados já estarão no local e denunciam eles próprios a
presença de estranhos”, explicou Rejane.
O monitoramento também é necessário para evitar que possíveis incêndios
ou queimadas ilegais cheguem até os campos de capim-dourado. “Neste ano a
colheita está sendo boa, pois não houve nenhum incêndio na região”, anunciou
Rejane.
Ela explicou que todo esse controle é para evitar que o capim-dourado se
esgote. “Os coletores credenciados pelo Naturatins são orientados sobre a forma
correta de colher as hastes, deixando para traz as flores, que carregam as
sementes e devem ser deixadas nos campos para germinarem e dar origem a novas
hastes”, ressaltou.
Outra regra que precisa ser observada pelos coletores do capim-dourado é
que as hastes não podem sair da região in natura, apenas em forma
de artesanato.
A supervisora diz ainda que desde que o trabalho de monitoramento dos
campos começou a ser feito de maneira mais ostensiva, não há registros de
tentativa de contrabando do capim-dourado.
“Durante as fiscalizações deste ano, um grupo de moto foi
interceptado colhendo capim-dourado à noite; o grupo fugiu do local e não
conseguimos identificar ninguém, mas as hastes colhidas foram deixadas para
traz e devolvemos para o território do Mumbuca”, informou Rejane.
Capim-dourado
Apesar do nome, o capim-dourado não é um capim, pois não pertence à
família das gramíneas. A haste dourada com uma pequena flor branca no topo é,
na verdade, da família das sempre-vivas.
Considerado uma das preciosidades do Tocantins, o capim-dourado brota em
outros estados do Brasil, onde há incidência do bioma Cerrado: Mato Grosso,
Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Goiás, Distrito Federal e Bahia.
O capim-dourado é a principal matéria-prima para a confecção de bolsas,
bijuterias e objetos de decoração feitos por artesãos, especialmente quilombolas
que residem na APA do Jalapão.
A habilidade dos artesãos do povoado Mumbuca na produção de peças de
capim-dourado fez o produto ganhar fama e encantar pessoas em todo o Brasil e
também no exterior.
Festa da colheita
Tradicionalmente, antes do início da coleta do capim-dourado é realizada
a Festa da Colheita, quando os
comunitários locais celebram a haste que deu a eles notoriedade e renda
garantida durante todo o ano. A festa é realizada na Comunidade Mumbuca, a
22 km do município de Mateiros.
A Festa é promovida pela Associação dos Artesãos do Povoado Mumbuca e é
aberta ao público, atraindo visitantes que, no período, têm a oportunidade de
conhecer a cultura, as tradições e, em especial, de verificar como se dá o
processo de produção do artesanato de capim dourado. Foram três dias de
festa, com a realização de eventos como maratonas, torneio de futebol,
cavalgada e peças teatrais.
Mas, um dos momentos mais esperados foi o desfile, quando moradores da comunidade apresentaram peças produzidas em capim-dourado, com destaque para o vestido desenhado pelo estilista tocantinense Luiz Fernando Carvalho para o Miss Brasil 2021, usado por Tayza Pereira, jovem quilombola de apenas 15 anos.
O traje, que encheu os olhos dos visitantes, foi confeccionado com mais de 1.100
peças artesanais, produzidas com o apoio de 15 artesãs, pertence ao acervo
da Agência do Desenvolvimento do Turismo, Cultura e Economia Criativa do
Tocantins (Adetuc).
Fonte:
Ascom/Naturatins
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