VICENTINHO ALVES ex-senador da República
Existe uma palavra que, ao ser pronunciada, é capaz de provocar no íntimo dos tocantinenses, uníssonas sensações e sentimentos de rara ternura. “Jalapão” é esta palavra.
Desde criança, ouvia de meu pai, o Comandante Vicentão,
relatos cheios de deslumbramentos do que ele via em seus sobrevôos pela Região
do Jalapão. Ao falar das maravilhas daquela imensidão, ele fazia voar nossos
sonhos de, um dia, também poder estar lá, ao alcance dos encantamentos de suas
dunas, chapadões, fervedouros e cachoeiras.
Nossa geração cresceu alimentada por forte sentimento de
preservação e de especiais cuidados, tanto em relação ao meio ambiente quando à
cultura e ao modo de vida das pessoas cujas famílias povoam aquela região por
gerações incontáveis.
Contudo, ultimamente fomos surpreendidos pela chegada à
Assembléia Legislativa de um Projeto de Lei que pretende autorizar a concessão
do Parque Estadual do Jalapão.
Digo que fomos surpreendidos, porque estamos em
fina sintonia com as comunidades tradicionais do Jalapão que estarão afetadas
pela eventual aprovação deste PL. Vale mencionar a existência de sete comunidades quilombolas certificadas pela Fundação
Palmares, sendo que algumas têm território sobreposto ao parque estadual e
também à Estação Ecológica Serra Geral do Tocantins.
É notória a
insatisfação dos moradores com a falta de diálogo e transparência no tratamento da questão. “Ainda que se diga que a concessão não atingirá as
áreas das comunidades tradicionais, é preciso levar em conta que os territórios
dessas comunidades ainda não foram devidamente demarcados e titulados e que as
comunidades exploram atividades turísticas bastante diversas, não exclusivamente
dentro de seus territórios” (MPF)
As
preocupações do povo tocantinense repousam, na mesma intensidade, sobre os riscos
que correm as belas características ambientais e ecológicas que ornam o
Jalapão.
O argumento de que a
aprovação do Projeto condiciona a melhoria da infra-estrutura local nada mais é
do que cortina-de-fumaça para encobrir a ineficiência do Governo Estadual em atender às necessidades da
população do Jalapão.
As propostas feitas pelo Sr. Carlesse
e seu Secretário Claudiney são totalmente descabidas de crédito pela natureza
de seus verdadeiros objetivos, cheios de subterfúgios.
Por este e por tantos outros
argumentos falaciosos, o povo levanta dúvidas sobre a lisura das intenções na
letra do mencionado Projeto de Lei. Há rumores de que a empresa a ser beneficiada
pelos nefastos planos do Palácio vem da longínqua Foz do Iguaçú. Há murmúrios
por todo o Tocantins de que se juntaram, ao grupo do Carlesse poderosos
personagens de Brasília no intuito de ludibriar o povo do Jalapão.
Percebe-se, pela movimentação que
fazem na penumbra, que não existem limites para a ganância desse grupo, sedento
de lucro fácil a despeito dos verdadeiros interesses do povo.
Por essas e outras, é que as pessoas
estão temerosas e inseguras quanto ao Projeto do Governo de autorizar a
construção de complexos turísticos e, assim, excluir os moradores que vivem do
turismo, os pequenos comerciantes de artesanato, os proprietários de
restaurantes e de pousadas, que se constituem nas principais fontes de renda da
região.
Por tudo isso, somos solidários ao grito de
indignação que ecoa desde o Jalapão. É inadmissível que aquele nosso povo não
tenha sido ouvido ou mesmo convidado aos debates prévios acerca dos destinos de
seu próprio lugar.
Isto não está correto.
Aqui, enalteço a atitude do
Ministério Público Federal, na pessoa do Procurador Álvaro Manzano que
ingressou com uma ação contra o governo estadual e o Instituto Natureza Do
Tocantins (Naturatins) para impedir o andamento do Projeto de Lei que trata da
concessão dos parques estaduais do Jalapão. Ao mesmo tempo, obriga o Executivo
a realizar consultas prévias sobre o texto do Projeto junto às comunidades
tradicionais afetadas. Via de conseqüência, o Juiz Federal Aldemir Ayres
concedeu 72 horas ao Estado para se manifestar sobre a referida ação.
Resta-nos,
por oportuno, suplicas ao nosso Deus da Vida, ao Ministério Público e à Justiça
pela proteção das comunidades nativas do Jalapão e ao Meio Ambiente de rica
biodiversidade.
Aproveito
para conclamar todos os Deputados Estaduais tocantinenses a alertarem o
Governador do Estado para a intempestividade e a opacidade deste Projeto. Ficar
do lado do povo e do meio ambiente é alternativa única plausível, sob pena de
resposta desfavorável ao se abrirem as urnas em 2022.
Faz-se,
portanto, urgente e necessária abertura de debate amplo, transparente e
participativo para se elaborar um novo Projeto que corresponda aos anseios das
comunidades do Jalapão e de todo o povo tocantinense.
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